Monstros de Mentira

02:17 Phelipe Malek 0 Comentarios

Eu ando com medo, eu não sei direito do que, mas é medo de algo que eu não posso enfrentar, que eu não posso deter e isso cresce dentro de mim. Eu lembro que lá pelos meus seis anos eu tinha medo de um monstro que vivia em baixo da minha cama, eu era apenas um moleque, eu tinha medo até da minha sombra,  toda noite antes de dormi eu rezava para que os monstros sumissem.

Conforme eu crescia, como toda pessoa, eu ganhei os meus próprios demónios  cedo demais talvez, eu tinha apenas doze anos, e foi lá naquele banheiro onde perdi a minha virgindade, em pé e minha inocência sendo tomada pelos monstros, mas esse era diferente, esse era de verdade. Passei a conviver com a dor, com a culpa, com a consciência pesada, meus demónios riam para mim como se estivessem gostando, o prazer deles me enoja. E quando ela saiu daquele banheiro, eu estava paralisado, diante do espelho, encarando a mim mesmo e percebendo que os monstros nunca estiveram em baixo da cama.


Dois anos depois eu havia mudado de igreja, inocentemente eu ainda era da igreja, seguia uma fé que deveria ser própria, usada corretamente e não como aqueles delinquentes abusavam e destruíam a fé em troca de meras notas de dinheiro, enganando as pessoas e abusando de suas crenças. Eu estava lá, acompanhando meu pai a igreja, tentando velo melhor e ao invés disso, apenas tiravam dinheiro dele, faziam promessas para ele que não podiam ser cumpridas, até que chegou a minha vez de dar uma oferta e eu recusei, e aquela mulher, com um olhar estranho, ali eu sabia que não viria coisa boa dela, e ela sussurrou "Então seja um amaldiçoado", e agora eu podia ouvir demónios gritando, fazendo ecoar aquela maldita frase em minha mente por anos.


Três anos de desgraças, perdas, apanhando e revidando, caindo em escolhas erradas, enfrentando tudo o que eu podia para me manter vivo, fui aprendendo a me torna forte da maneira errada, eu já estava longe de onde eu deveria estar há muito tempo e teve um dia que eu apanhei e não pude revidar. Eu havia me apaixonado pela primeira vez, foram seis meses de pura paz em minha vida em anos, pelo menos a minha paz com meus demónios, meus pais brigavam muito, estavam em fase de separação, até que depois de seis meses brigando, eles se separaram, por um lado agradeci por isso, eu suportei coisas que nunca pensei passar, mais depois de um tempo eu ainda não havia me acostumado, comecei a mudar e mudar e acabei me tornando egocêntrico, metido, agora eu batia mais do que apanhava, as brigas com a garota que eu havia me apaixonado foram aumentando e aumentando, e então eu me tornei frio, tão frio que meus demónios me respeitavam, riam e sentiam orgulho do que eu havia me tornando, um ano e alguns meses depois, eu havia caído em si.


Eu comecei a perceber que tudo era superficial, de mentira, que os monstros nunca existiram, que os meus demónios eram apenas eu e minhas escolhas, eu sempre fui assim, o monstro sempre foi eu. Porém não quero ser assim pra sempre, eu estou mudando e talvez me apaixonando de novo.