Marcos: Tudo por você

21:53 Phelipe Malek 0 Comentarios

"Eu não pude impedir sua morte, era o preço que ela tinha que pagar por isso, pelas informações que me deu. Mas eu não deixaria aquela morte ser em vão, Marcela havia me dado a informação mais preciosa do mundo, agora eu estou um passo mais perto de Ramon.

Na delegacia, estávamos ocupados com o assassinato de Marcela.
- Você interrogou os parentes e amigos mais próximos Fred? - perguntou o Sherif.
- Sim senhor, falta agora interrogar o Marcos. Foi o ultimo a fazer contato com a vitima. - respondeu.
- Leve-o para a sala de interrogação. - disse o Sherif.

Eu fui levado até lá como se tivesse sendo arrastado para um beco sem saída  as pessoas me olhavam estranho, só por que eu estava envolvido nos dois últimos assassinatos.
- Qual era sua relação com a vitima? - perguntou Fred.
- Eu conhecia a Marcela por causa da Carol, elas eram namoradas.
- E aonde você se encontrou com a vitima ontem?
- No baile que estava acontecendo na casa do Sr. Swander.
- Rolou alguma briga, algo do tipo?
- Claro que não. Ela me deu informações sobre a morte de Carol e confessou que havia sido que ela que matou Carol.
- Pera ai, você tinha informações sobre o caso da Carol?
- Sim e ia contar a vocês, mas vocês não deixaram eu falar até agora.
- E por que ela matou Carol?
- Marcela estava trabalhando para Ramon, e Carol tinha algum envolvimento com ele que ainda não descobri. Ramon ordenou que Marcela matasse Carol, caso contrario mataria à mim e à Marcela, logo depois que Marcela confessou e falou que foi Ramon o mandante de tudo, ela foi embora dizendo que iria morrer de uma forma ou outra.
- Por que não ligou pra gente e informou sobre isso?
- Eu estava abalado, sem forças para acreditar nisso tudo.
- Olha, não importa como você estava. Era pra ter ligado pra gente e ter dito tudo o que sabia, teríamos protegido à Marcela.
- De qualquer forma eu não tenho nada haver com a morte dela, mas sabemos que foi Ramon que mandou fazer o serviço.

Saímos da sala de interrogação, Fred passou tudo ao Sherif que ordenou que checássemos as finanças de Marcela, se ela trabalhava para Ramon e recebia por isso, o dinheiro tem que ter vindo de outra conta e assim poderíamos rastrear.
- E quanto a você Marcos. Vá até a casa da Carol. Se acharmos o motivo dela trabalhar pra Ramon, descobrimos sobre Marcela também. - disse o Sherif.

Eu fui na esperança de encontrar algo importante, o engraçado é que no caminho eu vi lugares e coisas que sempre irão me lembrar de como ela era importante pra mim, e agora ela se foi levando tudo o que conquistei, sempre foi por ela, somente ela que fazia tudo ser importante pra mim. Cheguei a casa de Carol, estava completamente abandonada e escura, assim que arrombei a porta, ouvi um barulho vindo das panelas na cozinha, saquei a arma e abri a porta de vagar, a porta rangia e isso quebrou todo o silêncio que me mantinha invisível ali. Vi uma sombra na cozinha, e fui pelos cantos da parede silenciosamente, provavelmente a pessoa que estava ali já tinha percebido que eu estava na casa. Assim que cheguei na porta da cozinha, a pessoa tentou correr e sair pelos fundos, fui mais rápido e consegui derrubar o invasor na grama. Era um homem grande, tinha traços fortes e usava uma roupa bem velha, parecida com o de uma pessoa que mora na rua.

Na sala de interrogação, ele estava lá, era um homem barbudo, mas por um lado estava bem cuidado.
- O que você estava fazendo naquela casa?
- Eu estava apenas procurando algo pra comer.
- Sabia que isso é invasão?
- Claro, eu sou um advogado, perdi tudo em apostas. E eu não estava invadindo, a garota que morava lá, como é mesmo o nome dela?
- Carol.
- Então, ela deixava eu tomar banho e comer algo lá quando ela estava fora. Eu ficava no beco próximo a casa dela.
- Sabe se ela recebeu alguém esses dias, ou com quem ela falou ao telefone recentemente, se ficou estressada ou parecia ter alguma alteração no humor?
- Não observava ela o tempo todo, mas eu vi certo dia enquanto eu comia na cozinha. Ela ficou estressada enquanto falava com um cara ao telefone. Logo depois que terminou de falar, deu um grito ao telefone, desligou e saiu.
- Sabe pra onde ela foi? E que dia foi isso?
- Foi a uns quatro dias atrás, e não sei pra onde ela foi.
- Obrigado pelo depoimento.
- Ei, poderia me arranjar um copo de café?
- Vou pegar, aguarde ai.

Levei as informações para o Sherif.
- Fred, o que descobriu sobre o dinheiro? - perguntou o Sherif.
- Está zerada, se trabalhava pra ele, não recebia nada ou pegava pessoalmente.
- Fred, cheque a conta de telefone dela e veja com quem ela falou quatro dias atrás.
- E eu senhor? - perguntei por não ter recebido ordens.
- Você venha comigo.

Fui junto com ele. Estranhamente ele estava sério, não era normal, geralmente ele sempre estava brincando  e sendo sarcástico com a gente. Assim que entrei na sala dele, o mesmo se sentou na sua cadeira e falou para eu sentar.
- Fiz algo de errado senhor? - perguntei nervoso. Ele abriu a gaveta de sua mesa e tirou uma garrafa fechada de Jack Daniels.
- Pra que isso?
- Oras, pra que serve uma garrafa de Whisky? Tome é pra você. - disse ele sorrindo agora enquanto estendia a garrafa para mim.
- Obrigado senhor, mas estamos no meio de um investigação agora.
- Nós estamos, você precisa de dois dias de descanso. Pegue e vá para casa.
- Acho que você tem razão.
- Te manteremos informado sobre o caso.

Peguei a garrafa e resolvi seguir o conselho do Sherif, eu perdi uma pessoa importante nos últimos dias, não dormi direito. Acho que eu precisava realmente desse descanso e dessa garrafa de Whisky. Cheguei em meu apartamento, coloquei uma musica para ouvir e fui tomar banho, sentei na varanda, acendi um cigarro e abri a garrafa de Whisky e fiquei ali pensando nela e no ultimo dia que olhei em seu rosto e de como ela me abraçou por trás sabendo que eu tinha um problema.

O engraçado é que eu disse pra ela que não estava acontecendo nada, mas eu apenas queria esquecer o que estava acontecendo naquela manha. Uma noite antes dela morrer, fomos para o PUB da cidade, eu bebi muitas doses de Whisky e ela também. Apareceu um homem estranho dando encima dela, eu intervir e o confrontei, ela não gostou, ela nunca gostou que eu brigasse, uma das coisas que ela não suporta é briga, talvez dependa do motivo, porém mesmo sabendo que ela estava ignorando o homem, eu queria arranjar briga e fazer aquilo, o problema é que eu estava tão bêbado que eu não consegui brigar e o homem foi embora deixando a gente em paz. O que me deixou realmente triste e preocupado, foi Marcela ter aparecido para ficar com ela. Aquilo me deixou um pouco puto, era a noite dos amigos, saiamos uma vez por semana para beber juntos e agora Marcela estava começando a intervir. Quase uma hora depois e sem beber nada além de água, as duas começaram a se pegar na mesa do canto no PUB, eu estava perto, levantei e fui embora. A ultima coisa que lembro daquela noite foi Carol vindo atrás de mim correndo e pedindo desculpas.

No dia seguinte eu lembrei de tudo que aconteceu e fiquei chateado, foi quando eu realmente percebi que estava apaixonado por ela, tantos anos de amizade e resultou nisso, era estranho. E ver ela com outra pessoa me entristecia demais, eu sentia que seria esquecido em pouco tempo, que a vida dela mudaria e talvez ela construísse sonhos encima desse relacionamento e que eu seria apenas mais um que ela conheceu, que talvez tenha sido importante na vida dela e que um dia seria completamente ignorando e trocado pela Marcela.

No dia seguinte Fred me ligou.
- Adivinha com quem ela estava falando ao telefone recentemente? - perguntou Fred animado.
- Marcela?
- Não. Ela mantinha contato com o Padre Salomão.
- E o que ela fazia falando com o Padre?
- Não sei, mas as conversas duravam quase meia hora.
- Vamos até lá então. Se confessar por telefone é bem moderno. - brinquei.

Fomos até o Padre, ele estava acabando a missa, eu olhei pra ele e quando ele encarou a gente de longe, pude perceber um olhar de culpa, assim que a missa acabou todos saíram e ele veio até a gente.
- Como posso ajudar vocês? - perguntou o padre calmamente.
- Estamos querendo saber a relação do senhor com está mulher. - disse Fred amostrando a foto de Carol.
- Ela vinha aqui se confessar as vezes.
- Se confessar é uma coisa, porém manter contato por telefone já é um pouco além disso não é? - perguntei.
- Olha, eu me tornei amigo dela. Ela ficou sem tempo nas ultimas semanas para vir até a igreja, então dei meu número para ela. Ela ligava e nós conversávamos. - disse ele transparecendo sinceridade.
- E o que ela conversava com você exatamente? - perguntei curioso.
- Ela falava coisas que não podiam ser ditas a qualquer pessoa. Então eu conversava com ela, fazia ela compreender e as vezes até ajudava ela a se afastar de alguns problemas. - respondeu o padre um pouco nervoso agora.
- E que problemas ela tinha? - perguntou Fred.
- Isso é confidencial.
- Confidencial é o que eu vou fazer com você se não me disser os problemas que ela tinha. - disse com raiva enquanto o encarava face a face.
- Padre, por favor colabore na investigação. - disse Fred.
- Tudo bem, vou dizer. Mas com uma condição. Não me envolvam mais do que isso. - disse o padre calmamente.
- Tudo bem, mas diga. - disse Fred enquanto nos sentávamos.
- Ela mantinha contato com um rapaz, se me lembro bem ele se chamava Luke. Depois de um tempo ela começou a reclamar que esse rapaz estava incomodando ela, não deixava ela em paz e ela estava sentindo falta de um amigo que havia viajado. E depois esse rapaz se tornou um problema ainda maior, sem ter ninguém pra desabafar, ela veio a mim, depois ela começou a se relacionar com uma garota, achei isso um tanto ofensivo a igreja, mas deixei isso de lado e ficou entre a gente.
- E o que o rapaz estava fazendo com ela? - perguntei.
- Ele forçava ela a se relacionar com ele contra a vontade dela, fazia ela usar drogas.
- Dois dias antes dela morrer, ela discutia com você no telefone com uma chamada que durou quinze minutos, pode me dizer o que aconteceu nesse dia? - perguntou Fred.
- Discutimos por que eu disse que ela precisava deixar esse homem de lado, mas ela dizia que não podia, ela já estava envolvida demais.
- Segundo testemunhas ela saiu pra encontrar com o senhor. - disse.
- Não era comigo, ela ia ao encontro dele.
- Acho que alguém mentiu para nos. - disse Fred me olhando.
- Obrigado pelo seu depoimento Padre.

Voltamos a delegacia enquanto os outros policiais traziam Luke para interrogatório. Aquele olhar de culpado do padre me intrigava, talvez ele sentisse culpa pela morte de Carol, ele tentou impedi-lá de se envolver com ele o tempo todo e não conseguiu. Alguns minutos depois chegarmos a delegacia, tomamos um café e fomos interroga-lo.
- Me diz, você gostava dela? - perguntei.
- Claro que eu gostava dela, o único problema é que ela não retribuía isso.
- E por isso contratou alguém para mata-lá? - perguntei.
- Olha, eu tenho um certo sentimento de culpa pela morte dela. Fiz coisas horríveis com ela pensando que isso era amor, mas depois que fiquei limpo das drogas eu percebi que isso era doentio, ela merecia ser livre.
- E o que você conversou com ela dois dias antes dela ser morta? - perguntou Fred.
- Eu queria pedir desculpas, eu prometi nesse dia que ia deixa-lá em paz.
- Então por que ela foi morta, qual era o envolvimento dela com Ramon? Sabe algo sobre isso? - perguntei nervoso.
- Olha, eu só sei que a Marcela, essa mulher que ela estava namorando, era uma das capangas do clube de Ramon. Tentei impedi-la de se envolver, mas não consegui!
- E por que ele mandaria matar Carol? - perguntei.
- Por que Ramon queria chantagear Marcela que estava pronta pra entregar ele a vocês.
- Ramon que matou Carol então? - perguntou Fred.
- Sim, foi a forma que ele encontrou de manter Marcela na linha.

Fiquei em choque, Ramon matou ela somente para chantagear Marcela, sai da sala de interrogatório inconformado. Quando sai o Sherif veio na minha direção.
- Tenho novidades sobre o caso.
- Quais? - perguntei.
- Marcela não era bem quem a gente pensava. Seu verdadeiro nome era Lohanna e ela era uma policial disfarçada de Miami. Segundo seus superiores ela estava aqui a alguns anos tentando chegar perto de Ramon.
- E o que ela conseguiu?
- Nada, o cara é como um fantasma. Ninguém se quer viu o rosto dele, dizem que ele usa mascaras de disfarce a cada vitima.
- Um verdadeiro profissional. Essa infiltração de Lohanna aos negócios de Ramon deve ter sido o real motivo de Ramon ter matado ela. Só que ele não contava de ela se envolver com Carol, então Marcela, ou melhor dizendo Lohanna passa a gostar realmente de Carol, conta toda a verdade sobre seu disfarce e sua real identidade para Carol, junto conta o que descobriu e então Ramon mata Carol como um aviso, Marcela desobedece e conta para mim quem mandou matar Carol, sendo que ele mesmo a matou, então ele fica sabendo e resolve matar Lohanna. Carol como prometeu não contar nada pra ninguém, esconde isso de todos e inclusive do Padre, trocando os nomes e jogando a culpa de sua frustração com Marcela em Luke.
- Isso mesmo. Muito bom Marcos. Agora vá para casa. Esse caso vai ficar fechado por enquanto até termos algumas provas e conseguirmos pegar o desgraçado.
- Irei, com toda certeza.

Estranhamente Fred sai correndo da delegacia.
- O que houve? - perguntei.
- Meu filho. - respondeu Fred com pressa e cara de preocupado. Nunca o vi assim antes.

Fui embora tranquilamente, o caso estava fechado por um tempo, mas eu sabia que logo iria surgir alguma pista nova. Comprei comida e fui pra casa, enquanto eu comia lembrei do ultimo jantar que tive com Carol, foi perfeito e só de lembrar eu conseguia sorrir de novo. A garrafa de Whisky jogada no chão me lembra como uma simples garrafa unia a gente. Mas o que mais me lembro dela, são as coisas mais simples do mundo. Seu sorriso, seu jeito de ajeitar o cabelo, sua risada e sua voz extremamente fofa. Só de lembrar disso meu coração acelera de uma forma estranha, mas uma coisa é certa, eu nunca mais serei o mesmo sem ela, e eu vou matar Ramon com minhas próprias mãos. Não é só uma promessa, é a minha vida que estou pondo em jogo e quando o jogo chegar ao fim, viver não vai importar mais, porém irei abir um bar com o nome dela, um dos sonhos dela."

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