Dois
24 de Junho de 2005
Apartamento do Paciente, alguém bate na porta até ser atendido.
"Boa tarde, sou psicólogo e gostaria de bater um papo com você, só que não aqui, no meu consultório, pegue meu cartão."
"Como me achou aqui?"
"Um amigo seu da faculdade ficou preocupado com seu sumiço e pediu para que eu o procurasse, imagino que precise conversar com alguém."
"E como encontrou meu apartamento? Ninguém sabe onde eu moro."
"Tenho muitos contatos. Te espero no meu consultório, e fique tranquilo... É de graça."
25 de Junho de 2005
Consultório, o paciente entra, senta e acende um cigarro.
"Fico feliz que tenha vindo."
"Olha, não sei por que estou aqui, vim por uma curiosidade que cresceu dentro de mim, pra saber, quem foi esse amigo que ficou preocupado comigo?"
"Ele é meu paciente, porém por uma questão de ética, não posso revelar. Mas, diga-me, o que houve?"
"Antes de eu começar, conta ai por que quer me ajudar."
"Gosto de ouvir as pessoas, esse é o meu trabalho. Ninguém some assim do nada, abandona a faculdade, e um fato que me chamou a atenção, foi... Ninguém sabe onde você mora, o endereço na sua ficha da faculdade é de um lugar que foi demolido a cinco anos e agora virou um parque."
"Não sou muito de dividir minha vida com as pessoas, eu abandonei tudo por que sofro crise de identidade, as vezes tenho um desejo de virar outra pessoa, com outra personalidade, outro jeito de agir, andar ou falar."
"Isso é interessante, pois nunca vi nada parecido na minha vida."
"Porém eu me equivoquei na ultima vez, e cometi um ato meio brutal."
"Por isso o seu sumiço?"
"Exatamente."
"E o que você fez?"
"Eu... Prefiro não falar."
"Sabe... Quando a gente erra, as vezes erramos por prazer, uma coisa diferente que poucos entendem. Mas, existem erros que são imperdoáveis e mexem com uma coisa dentro da gente que chamamos de dignidade, porém quando nossos erros ferem a dignidade de outra pessoa, o melhor que tem a se fazer é pedir desculpas e corrigir seus erros..."
"E poderia começar pedindo desculpas para mim..."
"O QUE É ISSO?"
"Uma conversa saudável com seu amigo da faculdade. Lembra bem dele? Numa rua escura, você o perseguiu até conseguir o que queria."
"Foi ele? Ele que pediu para me procurar?"
"Sim. E acho justo que tenham está conversar. Estou me retirando."
"Agora é entre eu e você."
"O que você quer de mim?"
"Justiça, desculpas, e um pouco de explicação, agora diga-me... POR QUE?"
"Você se excitou quando toquei em você."
"Isso não justifica."
"Eu fiquei excitado também, pensei que estivesse tímido, em crise."
"E isso lhe dá motivo para me perseguir? Tem idéia de como é estar aqui agora, conversando e olhando pra cara do homem que me estuprou?"
"Tem idéia de que por algum motivo você gostou? Caso contrário não estaria aqui."
"Estou aqui por um motivo simples e serei bem direto."
"Calma ai, qual foi cara? Podemos resolver na diplomacia, abaixa essa arma."
"Ajoelha."
"Por favor cara, na diplomacia."
"Sabe como é ter sua dignidade estuprada por um psicopata, pervertido?"
"Olha pelo lado real da coisa... Não somos tão diferentes assim. Você gostou, porém por uma questão de orgulho e aceitação, está aqui hoje me apontando essa arma pra reaver as coisas e tentar consertar o que houve. Mas... Agora chora, por que sabe que estou certo, e que no fundo, você é gay. E se as pessoas souberem disso, sua fama vai pelo ralo e toda sua vida acabaria, pois você meu amigo... Não conseguiria esconder isso por muito tempo."
"CALA A BOCA, MAS QUE MERDA! Droga, o que eu faço agora? MINHA VONTADE E DE
BOTAR UMA BALA NA SUA CABEÇA!"
"ENTÃO FAÇA! Pois eu ia adorar saber que logo depois você também colocaria uma bala na sua."
"MERDA."
"Dois tiros, dois corpos, dois pacientes, e tudo que fiz, foi fazer eles se encontrarem. Romeu e... Ro-meu."
0 comentários: